Quando encontramos uma forma de melhorar a qualidade de vida de muitos por um longo período de tempo, temos o que chamamos de prosperidade. Quando melhoramos a vida de poucos e a maioria tem a percepção de que não importa o quanto faça, a vida não melhora nunca, temos desespero, perda de confiança uns nos outros, conflitos sociais e, com o passar do tempo, miséria.

Na história mais recente, foi somente depois das duas grandes guerras mundiais, das atrocidades cometidas contra os civis e soldados durante e após as guerras, diante das péssimas condições de vida para quase toda a população em dezenas de países, que ficou clara a importância de se estabelecer um acordo internacional sobre o que deveriam ser os direitos de todos os humanos no planeta.

Foi desse esforço, liderado por Eleanor Roosevelt, diplomata e ativista americana, que nasceu de fato uma agenda global de qualidade de vida para todos. Em Paris, em dezembro de 1948,  a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada pela ONU, apoiada por 48 países. Os principais redatores foram representantes da Inglaterra, França, Austrália, Chile, Líbano, Canada, China e União Soviética.

Essa declaração – absolutamente inovadora na época e ainda hoje – estabelece em seus 30 artigos, por exemplo, o direito de todos nós nascermos livres, iguais em lei e dignidade, sem distinção de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política, nacionalidade, origem social, local de nascimento ou qualquer outro aspecto. Também estabelece, entre outras coisas, o direito de todos a segurança física, alimentação, roupas adequadas, moradia, saúde, ir e vir, unir-se para defender uma ideia pacificamente, votar, trabalhar, receber pagamento igual pelo mesmo trabalho que outros fazem, descansar, tirar férias e ter acesso a uma educação – fundamental e vocacional – que dissemine a convivência entre pessoas diferentes. Determina ainda que todos nós devemos ter acesso à produção científica, artística e cultural.

Além disso, para a proteção de soldados e outros que estavam ou poderiam se tornar prisioneiros, estabelece “Artigo 5: Ninguém será submetido a tortura ou a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante “(http://www.un.org/en/universal-declaration-human-rights/).[1]

Esse foi o momento em que a semente de um movimento global por um modelo de desenvolvimento e convivência sustentáveis – definindo o que seria uma vida digna e com qualidade para todos – realmente se iniciou.

Décadas mais tarde, esse movimento ganhou novos contornos com duas outras publicações que também se tornaram marcos definitivos, avançando no entendimento da relação entre a garantia dos direitos humanos e questões ambientais:  uma em 1962, A Primavera Silenciosa, de Rachel Carson, e a outra em 1972, Os Limites do Crescimento, de  Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, JørgenRanders, and William W. Behrens III, representando 17 cientistas.

Enquanto a Declaração Universal de Direitos Humanos considera aspectos políticos e éticos para a garantia de qualidade de vida digna para todos, as publicações que vieram a seguir explicitam um outro aspecto – o ambiental – que também precisa ser considerado para garantir direitos básicos, como acesso a água e alimentos não contaminados[2].

Muita gente veio depois disso, medindo impactos ambientais das mais variadas atividades humanas, avaliando qualidade de vida, criando índices para compararmos tudo isso, propondo regras para governos e empresas operarem etc., para nos ajudarem a construir esse caminho.

Como tudo isso nos ajuda na prática a manter o rumo na direção certa?

Da seguinte forma: quando você estiver em dúvida onde investir seus recursos e os da sua equipe, ou sobre qual iniciativas apoiar, ou como desenhar um projeto que realmente contribua para um futuro sustentável, democrático, abundante e criativo, pare e pense “qual das opções melhora a qualidade de vida do maior número de pessoas no curto e no longo prazo?”.

A bússola de Eleanor – apontando na direção da qualidade de vida com dignidade – não nos deixa à deriva, nunca!

Por Nelmara Arbex

 

[1] Infelizmente, a maior parte dos currículos escolares não inclui o estudo da Declaração dos Direitos Humanos. Trata-se de uma grande falha no sistema universal de educação que temos que compensar muitas vezes fora do ambiente escolar.

[2] Vale dizer que o artigo 25 da Declaração faz menção `a questões que foram depois conectadas `a questões meio ambientais: “Toda pessoa tem direito a um padrão de vida adequado à saúde e ao bem-estar de si mesmo e de sua família, incluindo alimentação, … “.

Foto: https://aaregistry.org/story/eleanor-roosevelt-born/