Você faria parte de uma campanha cujos resultados veria, se tudo desse certo, depois de 2050? Essa é uma das principais perguntas que uma menina sueca de 15 anos, Greta Thunberg, está fazendo desde que iniciou sua greve para que adultos e políticos suecos, e de todo o mundo, se mobilizem contra as mudanças climáticas “como se estivéssemos em guerra”! A outra pergunta essencial que ela faz é: o que vai sobrar do planeta para os jovens de hoje viverem depois de 2050 se esse for o plano?

Em outubro do ano passado, Masha Gassen já estava escrevendo para a Revista New Yorker sobre Greta Thunberg. Naquele mês, ela estava em greve desde meados de agosto porque adultos em geral, e o governo da Suécia em particular, não estavam dando a atenção necessária à questão das mudanças climáticas. Ela começou a ir até o Parlamento sueco antes das eleições, que ocorreu em  9 de setembro. Ela foi até lá todos os dias durante o horário escolar com um cartaz na mão que dizia “Greve Estudantil pelo Clima”. Depois das eleições, ela passou a ir até o local todas as sextas-feiras.

Muitos outros atenderam ao chamado dessa líder, e não somente na Suécia. Quatro meses depois, em 20 de dezembro de 2018, 20 mil estudantes entraram em greve em 270 cidades ao redor do planeta, anunciou o The Guardian. No dia 15 de março, mais de 1.700 cidades em 112 países tinham greves e manifestações estudantis pelo clima marcadas – 21 delas aconteceram no Brasil.

Hoje, Greta é uma celebridade, tendo sido inclusive indicada para o Prêmio Nobel da Paz por três deputados noruegueses. Ela foi convidada para falar para a Assembleia das Nações Unidas em dezembro de 2018, para o Fórum Econômico Mundial em Davos em janeiro de 2019 e para comissões da União Europeia em fevereiro. Ela viaja para todos esses lugares num carro elétrico ou de trem. Ela não viaja em aviões ou quaisquer veículos movidos a combustível fóssil.

Apesar do anúncio da Suécia e outros 18 países terem metas para se tornarem carbono zero em 2050, ela acha isso um péssimo plano para os jovens e crianças. “A essa altura, no melhor dos casos, eu terei vivido quase metade da minha vida.. O que acontece depois?”, escreveu ela num artigo intitulado A Suécia não é um modelo , no qual ela aponta que mesmo os planos mais bem elaborados para lidar com as mudanças climáticas não olham para além do ano de 2050 e o que realmente vai acontecer até lá.

Muitos de nós, que sabemos mais ou menos sobre o tamanho do impacto que as mudanças climáticas estão causando e vão causar, não conseguimos imaginar de que forma cidades como São Paulo vão conviver com enchentes e secas cada vez mais intensas pelos próximos 30 anos, até 2050. O que vai sobrar dessa cidade? E como será a vida de seus habitantes sem um plano para lidar com tudo isso  agora e nos proximos meses? Quanto vai valer um imóvel em São Paulo se a cidade tiver que gerenciar imensas quantidades de alagamentos que vão destruir o sistema de água e esgoto, como já está acontecendo nesse momento em Miami?

É esse senso de urgência, sem espaço para negociação, expressado por essa menina, que é  cativante e extremamente necessário nessa discussão para que consigamos não somente engajar minha geração, as ONGs ou os políticos no que de fato precisa ser discutido e feito, como se estivéssemos nos preparando para uma guerra, mas também levarmos as próximas gerações a pensar, de forma muito mais concreta do que fizemos até hoje, em como vamos solucionar a crise em que estamos. Como vamos motivar os jovens e as próximas gerações a cuidar do planeta e de todos os seres vivos?

Em Davos, Greta disse: “Muitas vezes ouço adultos dizerem: ‘Precisamos dar esperança à próxima geração’, mas eu não quero sua esperança. Eu quero que você entre em pânico. Eu quero que você sinta o medo que eu sinto. Todo dia. E quero que você aja. Eu quero que você se comporte como se nossa casa estivesse em chamas. Porque ela está.”

Greta é autista. Consegue manter o foco num tema por mais tempo do que a maioria das pessoas  e é capaz de memorizar uma enorme quantidade de informações. E, desde que tem 9 anos, seu foco é: “se o clima está sendo destruído, como garantir uma vida com qualidade para mim e todos no mundo?”

Sua personalidade também nos dá pistas sobre o perfil do líder de que precisamos: pessoas capazes de manter o foco em uma questão prática para resolver, e fazê-lo de forma direta e consequente. Passamos da hora dos diagnósticos. Temos toda a informação de que precisamos. Faltam ações e líderes que vivam o que dizem ser o certo a fazer.

 

Por Nelmara Arbex

Foto: Anders Hellberg